O Boletim de Inovação e Sustentabilidade Regional (BISUR), em sua Edição 1, Número 1, traz uma análise aprofundada sobre a relação entre expansão urbana, favelização, desmatamento intraurbano e mudanças climáticas em Manaus, reforçando a urgência de políticas públicas integradas de planejamento urbano, habitação e sustentabilidade ambiental.
Produzido no âmbito do Projeto de Pesquisa de Produtividade Acadêmica – BISUR, vinculado à Escola Superior de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Amazonas (ESO/UEA), o boletim analisa dados históricos entre 1985 e 2023, combinando revisão bibliográfica, análise geoespacial e modelagem econométrica para compreender a dinâmica urbana da capital amazonense.
Crescimento urbano desigual e vulnerabilidade socioambiental
Situada no coração da Amazônia, Manaus apresenta hoje uma das dinâmicas urbanas mais complexas do país. Segundo o estudo, a cidade passou por um crescimento populacional de aproximadamente 183% no período analisado, acompanhado por uma expansão urbana marcada pela ocupação irregular de áreas ambientalmente frágeis, especialmente nas zonas Norte e Leste.
Os dados do Censo 2022 revelam um quadro alarmante: mais de 55% da população de Manaus vive em favelas, o maior percentual entre as capitais brasileiras. Esse padrão de crescimento evidencia um modelo de urbanização excludente, no qual a população de baixa renda é empurrada para áreas de risco, como encostas, margens de igarapés e regiões alagáveis, em função da ausência histórica de políticas habitacionais eficazes.
Favelização, desmatamento e mudanças climáticas
A análise geoespacial realizada a partir de dados do MapBiomas demonstra que, enquanto a área urbana de Manaus cresceu cerca de 59%, a área ocupada por favelas aumentou 90% no mesmo período. Aproximadamente 60% da expansão urbana ocorreu sob a forma de ocupações precárias, avançando sobre áreas de vegetação nativa.
Esse processo tem implicações diretas sobre o clima urbano. A substituição da cobertura florestal por áreas não vegetadas intensifica fenômenos como ilhas de calor, altera o regime de chuvas e amplia riscos à saúde pública. Estudos citados no boletim indicam que, mantido o ritmo atual, a temperatura média de Manaus pode sofrer elevações significativas ao longo do século, agravando ainda mais a vulnerabilidade social e ambiental da cidade.
Evidências empíricas e implicações para políticas públicas
Um dos destaques do BISUR é a aplicação de um modelo de Regressão Linear Múltipla, que aponta a ocupação de áreas de risco como o principal vetor do crescimento das favelas em Manaus, superando o efeito isolado do desmatamento. O resultado reforça que a favelização não é uma escolha individual, mas uma consequência direta de um mercado imobiliário excludente e da negação do direito à cidade.
As evidências apresentadas pelo boletim fortalecem o debate sobre a necessidade de planejamento urbano integrado, políticas de habitação social, preservação ambiental e adaptação às mudanças climáticas, especialmente em cidades amazônicas, onde os impactos ambientais assumem proporções ainda mais sensíveis.
Contribuição acadêmica e institucional
O CORECON-AM/RR reconhece a relevância do BISUR como instrumento de difusão do conhecimento científico aplicado, contribuindo para o debate qualificado sobre desenvolvimento regional, sustentabilidade e políticas públicas. Iniciativas como esta reforçam o papel da Economia na compreensão dos desafios urbanos contemporâneos e na construção de soluções que conciliem crescimento econômico, justiça social e preservação ambiental.
O boletim é de autoria do pesquisador Luiz Gustavo de Souza, sob coordenação da professora Elane Conceição de Oliveira, ambos do curso de Economia da ESO/UEA, e integra também projeto de iniciação científica voltado à análise das emissões de gases de efeito estufa em Manaus.
Acesse aqui o Boletim BISUR.