Nesta segunda-feira (24/3), celebrou-se a memória do economista e professor Paul Singer, considerado o “pai” da economia solidária no Brasil, referência mundial no assunto. Na data da passagem do seu aniversário, o Conselho Regional de Economia (Corecon-AM/RR) eternizou o momento na live “Paul Singer na prática”, entre profissionais que atuam no setor.
A mediadora desse debate foi a vice-presidente do Corecon, Karla Martins, com a professora doutora em desenvolvimento socioambienta, Girlian Souza; empreeendora social Lúcia Obando, e professor doutor Renato Dagnino, da Unicamp, considerado um dos maiores estudiosos no mundo sobre o assunto. Tendo ainda a participação da presidenta do Corecon, Michele Aracaty, e da conselheira, Denise Kassama, fundadora do grupo de economistas solidários do Conselho Regional de Economia do Amazonas/Roraima.
Há dez anos, o Corecon criou o grupo Economistas Solidários, cujo objetivo é dar suporte às operações dos grupos de economia solidária, às cooperativas de catadores, grupos de costura, além de realizar freqüentemente mutirões de cidadania, com a oferta de vários serviços à população.
“Nessa live, queremos celebrar Paul Singer, o pai da economia solidária. Tema ainda pouco difundido, porém muito importante para a sociedade. Sabemos que o brasileiro, em geral, é um povo solidário. Mas que precisa ser formado e informado para essa temática, que é nova, para que possa compreender e fazer uso dela. E essa visão também passa pela universidade, com os nossos alunos de Economia, por exemplo. Quando os convidamos para participar de ações nessa área, eles sempre estão presentes. Um sinal de que estão abertos a novos tipos de experiências, sempre que são provocados”, declarou Michele Aracaty, destacando ser esse um dos principais desafios, de levar o assunto a todos os setores sociais.
Democracia e cooperação
De mesma forma, Denise Kassa completa: “economicamente falando, a economia solidária é um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de serviços, comercialização, finanças ou consumo baseado na democracia e na cooperação, chamado de autogestão. É uma economia onde não existe patrão nem empregados, pois todos os integrantes do empreendimento (associação, cooperativa ou grupo) são ao mesmo tempo trabalhadores e donos”.
O professor doutor Renato Dagnino, da Unicamp, destacou que a lógica da economia solidária está na contramão de tudo o que se prega na economia tradicional e dentro das universidades, que é baseado no capitalismo, ou seja, no lucro, em competir e consumir.
“O nosso caminho deve ser outro. É o da tecnociência solidária (desenvolvimento de tecnologias para gerar trabalho e renda a partir da ciência e da inovação, respeitando valores da economia solidária). E um dos caminhos é pelas universidades: com extensão solidária (estreitando relações com esses movimentos); com novas pesquisas para esse fim, e com ensino que retrate essa realidade, propondo mudanças nas agendas curriculares e formarmos esses estudantes para serem profissionais que entendam e pratiquem a economia solidária”, explicou Renato Dagnino.
Já a professora Girlian Souza, explicou que um dos grandes desafios tem sido a valorização do setor, fazendo com que a sociedade enxergue valor nos produtos resultados da economia solidária. “Para isso, precisamos de recursos para dar suporte real a esses empreendedores, com a oferta de projetos, cursos, oficinas de formação. Dessa forma, auxiliamos esses produtores a comercializarem seus produtos, sem que sejam desvalorizados. Porque tudo o que produzem tem valor agregado, com compromisso social”.
Sociedade mais justa
Para a empreeendora social Lúcia Obando, se a economia solidária cresce, todas as bases também crescem. Ela reforça que é preciso entendimento, formação constante e resistência para participar e se desenvolver nessa área. “Os desafios são muitos. Mas não podemos desistir. Um dia me apaixonei pela economia solidária e nunca mais larguei. É acreditar que uma nova economia é, sim, possível”, frisou.
Já a vice-presidenta do Corecon, Karla Martins, finalizou que diante dos muitos desafios é preciso priorizar a formação e o conhecimento sobre essa temática. “E o Corecon está aqui para ajudar esses grupos a melhor se organizarem. Queremos incentivar esses empreendedores solidários a terem cada vez mais capacidade de seguir em frente, com persistência e resiliência, rumo a uma sociedade mais justa e solidária”.